Periódico é processado por retratar má-conduta em pesquisa

Por Maurício Tuffani
Imagem: Isagani Serrano/International Rice Research Institute/Divulgação
Arroz comum e arroz dourado transgênico (Imagem: Isagani Serrano/International Rice Research Institute/Divulgação)

Guangwen Tang, pesquisadora chinesa que vive nos Estados Unidos está processando por difamação e por prejuízos comerciais a universidade em que ela trabalha e a revista em que publicou um estudo sobre alimentação de crianças com arroz dourado transgênico, informou o blog “Retraction Watch”, que monitora retratações de trabalhos científicos.

A Universidade Tufts havia considerado a pesquisa antiética por ter sido realizada sem consentimento dos pais das crianças. E o “American Journal of Clinical Nutrition” (“AJCN”) havia decidido retratar o artigo de agosto de 2012 de autoria da pesquisadora. Os advogados da pesquisadora pleiteiam reparação de danos à reputação dela por “difamação, quebra de contrato e interferência com relações comerciais”, segundo o site de notícias jurídicas “Courthouse News Service. O estudo havia obtido um financiamento plurianual  de US$ 1 milhão dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, que foi interrompido.

O estudo de Tang e seis colaboradores —três chineses e três norte-americanos— se baseou em um experimento de 21 dias com 112 crianças de 6 a 8 anos de idade em escolas da província de Hunan. Eles analisaram resultados de coletas de sangue e outros dados clínicos para avaliar os efeitos da ingestão diária de arroz modificado geneticamente para servir como fonte de betacaroteno. Ao ser ingerida e transformada em vitamina A, essa substância previne contra radicais livres e auxilia o metabolismo de gorduras e a formação do pigmento melanina, que protege a pele dos raios ultravioleta.

A pesquisa concluiu que o arroz dourado é mais eficiente que o espinafre como fonte de betacaroteno. E apontou também que o produto é adequado para suprir as necessidades desse nutriente, segundo as recomendações do governo chinês, para crianças de 6 a 8 anos de idade.

Protestos e punições

Segundo informações da Universidade Tufts, nenhum problema foi detectado na saúde das crianças nem no conteúdo técnico do estudo, mas houve outras irregularidades nos documentos e dados necessários para aprovação do experimento, além da falta de consentimento dos responsáveis. O assunto gerou protestos na imprensa chinesa, que acusou os pesquisadores de usarem as crianças como cobaias. Em dezembro de 2012 o governo chinês puniu os três colaboradores por má-conduta e indenizou os pais das crianças (ver reportagem da revista “Science”) .

Apesar disso tudo, no dia 9, em uma corte do estado de Massachusetts, os advogados de Tang processaram a Sociedade Americana de Nutrição (ANS), que edita o “AJCN”, pela decisão de retratar publicamente o estudo em 11 de julho, o que não aconteceu até as 12h deste sábado (19.jul). E processaram também a universidade por ter divulgado a conclusão de sua apuração sobre o caso e também os relatórios d0 inquérito do Departamento de Saúde dos EUA e da investigação da ANS.

Já pensou se ações judiciais como essa virarem moda?