Um dos grandes desafios para a preservação do meio ambiente no brasil e também para o jornalismo investigativo nesse campo é a quase total desconsideração do tema da diversidade biológica em estudos e na formação em economia. Essa foi a mensagem principal do debate “Economia, sociedade e biodiversidade em crise”, entre o economista Sérgio Besserman Vianna e o jornalista André Trigueiro, em que atuei como mediador no sábado (26.jul), no 9º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, em São Paulo.
Perda de informação
Lembrando um estudo divulgado dias antes pela revista “Science” que apontou o declínio, desde os anos 1970, de 45% de espécie de invertebrados e de cerca de 30% de todas as espécies de vertebrados estudadas, Besserman frisou que esses dados se referem apenas aos seres vivos conhecidos pela ciência. O economista estabeleceu a correlação entre os fatores ambientais e as atividades humanas desde o início da civilização, destacando que, na verdade, não existe e nunca existiu um problema do meio ambiente nos bilhões de anos da história do planeta. “A natureza não tem um problema no tempo dela. O problema é nosso, que estamos estragando a natureza do nosso tempo”, disse Besserman, que foi presidente do IBGE, diretor do BNDES, e é professor da PUC-RJ e membro do comitê de programas do WWF Brasil.
“Nosso grande desafio é crescer sem ultrapassar os limites do planeta”, afirmou Besserman, ressaltando que mais de 90% das espécies que viveram no planeta já foram extintas desde antes de nossa civilização por meio de grandes por grandes mudanças ambientais naturais e, também agora, pela ação do homem. E observou que temos de fazer a conta dessa perda, que é não só de recursos, mas também de informação. A crise da biodiversidade é a perda dessa informação, e o jornalismo está diante do desafio de revelar esse prejuízo para a sustentabilidade e para o conhecimento, disse o economista.
Inveja do PIB
O jornalismo investigativo precisa estar sempre atento à ausência, em quase toda a ciência da economia, de um conhecimento baseado no valor da diversidade biológica, afirmou André Trigueiro, repórter do “Jornal Nacional” e colunista do “Jornal da Globo” e editor-chefe do programa “Cidades e Soluções”, da GloboNews. “As escolas de economia no Brasil não ensinam biodiversidade”, disse o jornalista, que mostrou como consequência disso, o modelo econômico que ignora, por exemplo, a revolução energética em curso na Alemanha, onde os hábitos de consumo e a geração de eletricidade são cada vez sustentáveis.
Em vez disso, muitos de nossos economistas e tocadores de decisão têm “inveja do PIB chinês”, ironizou Trigueiro parodiando o conceito freudiano de “inveja do pênis”. Na última década, afirmou o jornalista, o consumo de energia mais que dobrou na China, que se tornou o maior poluidor do planeta e principal vilão do aquecimento global, desbancando dessas duas posições os Estados Unidos. Nesse país asiático, onde existem hoje cerca de 250 milhões de automóveis —mais que nos EUA— e todo mês são licenciados aproximadamente 1 milhão de veículos, para grande parte da população das grandes cidades já é rotina ter de usar máscaras e equipamentos de filtragem do ar em casa e no trabalho para proteger a respiração.
Temas como a necessidade de outros indicadores econômicos e os fatores ambientais não computados nos custos da produção também foram abordados nas discussões, que contaram com a participação da advogada Delmira Araújo Nardy, do produtor de video Danilo Tavares dos Santos e da socióloga Paula Johns, da Associação para Controle do Tabagismo.
Parabéns à diretoria da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), organizadora do congresso, cuja programação abordou diversos temas de interesse não só do jornalismo, mas de toda a sociedade.