Suicidou-se em Kobe, no Japão, nesta terça-feira (5.ago) Yoshiki Sasai, 52, vice-diretor do Centro Riken de Biologia do Desenvolvimento, um dos 11 co-autores de dois estudos sobre células-tronco que foram retratados por “má-conduta” em julho pela revista científica britânica “Nature”, que os publicou em janeiro.
Sasai foi encontrado enforcado na escada do centro, onde foi realizada grande parte dos dois trabalhos, que foram coordenados por Karuko Obokata, 30, diretora de um dos laboratórios da instituição, que é ligada ao governo japonês, informou o jornal “The Japan Times”.
Satoru Kagaya, chefe de relações públicas do centro, afirmou em entrevista coletiva que foram encontradas pelo menos duas cartas sobre a mesa do secretário de Sasai e três outras junto com o corpo, segundo o jornal. O porta-voz não informou os conteúdos e os destinatários das mensagens nem confirmou versões de que uma delas teria sido dirigida a Obokata, “considerando a profunda tristeza que a família de Sasai deve estar se sentindo”.
Sasai estava recebendo aconselhamento psicológico e estava “cansado mental e fisicamente”, segundo o porta-voz. O vice-diretor era supervisor de Obokata, que se tornou celebridade mundial em poucos dias após a publicação dos artigos, que anunciavam a reversão, por meio de um simples banho ácido, de células adultas de diversos tecidos de camundongos para seu estágio embrionário.
Adulteração de imagens
Nos dias seguintes à publicação dos dois artigos, vários outros laboratórios tentaram sem sucesso reproduzir os resultados anunciados por Obokata e seus colegas. Rapidamente surgiram em blogs de pesquisadores a suspeita de adulteração de imagens de células usadas no estudo, que foi complementado na mesma edição por outro trabalho da mesma equipe.
A técnica proposta nos dois artigos trazia a promessa implícita de dispensar não só as complicações éticas do uso de embriões humanos para obter as chamadas células-tronco embrionárias humanas (CTEHs).
Apelidada pela sigla STAP em inglês (aquisição de pluripotência induzida por estímulo), a técnica se mostrava também como um passo decisivo para evitar os riscos de combinar CTEHs com a manipulação genética de vírus para desenvolver tratamentos de diferentes tipos de câncer e doenças como as de Parkinson, Alzheimer e outras. Só faltaria reproduzir em humanos os mesmos resultados obtidos com camundongos.
Pesquisadores de outros países e instituições se manifestaram sobre o suicídio de Sasai no espaço de comentários do blog “Retraction Watch”. “Seu suicídio foi algo muito trágico para acontecer, e isso se deve em grande parte à cultura japonesa rígida e obcecada pela honra”, afirmou Leonid Schneider, pós-doutorando do Instituto Max Planck de Pesquisa de Polímeros, na Alemanha.
Com o suicídio de Sasai, ficou ainda maior o constrangimento não só para o Centro Riken, mas também para a revista “Nature”, que, como eu comentei em julho, deu uma desculpa esfarrapada sobre sua atuação nesse caso e já publicou sete retratações neste ano, segundo o “Retraction Watch”.