Na falta de um Nobel, Dilma tem Lobão

Por Maurício Tuffani
Dilma-e-Lobao
A presidente Dilma Rousseff e o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, nas obras da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, em reportagem do “Jornal Nacional”. Imagem: Reprodução

O velho ditado “uma imagem vale mais que mil palavras” teve um bom exemplo na reportagem sobre a visita da presidente Dilma Rousseff às obras da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, transmitida pelo “Jornal Nacional” na terça-feira (5.ago). Durante a entrevista, enquanto a candidata do PT à reeleição gesticulava vigorosamente para enfatizar suas afirmações de que não faltará eletricidade em nossas tomadas, atrás dela, atento, estava o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, atualmente no PMDB, licenciado de seu terceiro mandato consecutivo de senador pelo Maranhão, que vai até 2019.

Ao notar essa retaguarda ministerial da presidente vestida com seu indefectível casaco vermelho durante suas enérgicas afirmações, lembrei de um comentário de André Trigueiro, repórter do “Jornal Nacional”, colunista do “Jornal da Globo” e editor-chefe do programa “Cidades e Soluções”, da GloboNews.

No debate “Economia, sociedade e biodiversidade em crise”, com o economista e professor da PUC-RJ Sérgio Besserman Vianna, em 26 de julho, no 9º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, em São Paulo, Trigueiro ressaltou a necessidade de lideranças governamentais com credibilidade para promover avanços na preservação ambiental.

Nesse contexto, o jornalista destacou que o presidente Barack Obama, dos Estados Unidos, no início de seu primeiro mandato (2009-2013) escolheu  Steven Chu, um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Física em 1997, para ser seu secretário de Energia. No ano passado, já em seu segundo mandato, Obama o substituiu por outro acadêmico, o físico Ernest Moniz, professor do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Aqui no Brasil, na falta de um Nobel, a presidente de casaquinho vermelho preferiu um Lobão.

Bloco maranhense

Não se trata aqui de afirmar que todo ministro deve ser um acadêmico de alto desempenho na área de sua pasta. Mas o que dizer de a escolha do titular do MME (Ministério das Minas e Energia) ter sido influenciada, nas últimas décadas, pelo grupo político do ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP)? Ainda mais por esse campo de atuação do governo envolver um desafio que certamente será um dos maiores deste século, que é a prevenção da mudança climática?

O senador maranhense pertence a esse grupo político, cujo poder na área de mineração do governo começou com correligionários da antiga Arena, que se tornou o PDS, quando os presidentes da República eram militares. Esse bloco, assim como outros que tinham e ainda têm seus feudos no ministério, migrou para o PFL, DEM e PMDB para continuar nas gestões de Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco e também de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB. E foi no segundo mandato de Lula que os maranhenses se fortaleceram ainda mais no MME.

Desde o início do governo Dilma, em janeiro de 2011, Lobão exerce pela segunda vez o comando desse ministério. Sua primeira gestão, de janeiro de 2008 a março de 2010, só foi interrompida para ele poder se candidatar à reeleição, no que teve sucesso. Nessa reportagem do “JN”, a imagem de sua presença na retaguarda da presidente traz sérias dúvidas sobre o necessário empenho do país para mudanças inovadoras e sustentáveis na produção de energia no Brasil.

Esse empenho, que não deve ser só governamental, exige uma grande mudança de atitude, como mostram os mais recentes relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas). São necessárias grandes transformações na geração e no consumo de água, energia, alimentos e produtos em geral, no transporte público e em vários outros processos que regem a vida da população. No que diz respeito especificamente ao poder público, dificilmente conseguiremos esses avanços sem novos atores.

Sem ilusões

Apesar de minha ênfase nas linhas acima sobre as escolhas de Obama, não devemos nos iludir com credenciais acadêmicas. Na escolha de lideranças, elas podem ser um bom indicativo associado a outros, mas não são garantia de eficácia e consistência na formulação e execução de políticas públicas. Basta ver a falta de alternativas de abastecimento de água e o despreparo da sociedade e do governo do Estado a que chegou São Paulo para enfrentar a atual estiagem. Aqui não faltaram dirigentes altamente titulados na gestão de recursos hídricos.

Por falar nisso, ontem (sexta-feira, 8.ago) a Folha publicou o artigo “Por uma nova atitude em relação à água”, do economista Gesner Oliveira, professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo e doutor pela Universidade da California em Berkeley (EUA), que foi presidente da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico de São Paulo) durante o governo de José Serra (2007-2011), do PSDB.

Nesse texto, o ex-presidente da estatal paulista descreve muitas das transformações que são realmente necessárias. Curiosamente, ele afirma, no final que elas são “óbvias”. Nenhuma delas era óbvia para o governo há cinco anos?

Seja quem for o governador de São Paulo nos próximos quatro anos, resta saber quem estará na retaguarda dele nas áreas de energia e recursos hídricos.