Em mais um lamentável capítulo do vale-tudo contra a teoria da seleção natural dos seres vivos, acaba de ser requentada uma das mais estúpidas asneiras criacionistas de todos os tempos. Richard Weikart, professor de história da Universidade do Estado da Califórnia em Stanislaus, decidiu recentemente dar uma turbinada na página que mantinha desde 2004 para divulgar seu livro “De Darwin a Hitler”, transformando-a em um repositório de todos os seus trabalhos.
Já com nova cara, o site passou a ser divulgado nas últimas semanas pela entidade criacionista Instituto Discovery, dos Estados Unidos, e se tornou um “hit” no aquecimento do repertório argumentativo do esforço negacionista contra a seleção natural.
Para se ter uma ideia das justificativas de Weikart para sua ridícula tese, basta dar uma olhada em seu artigo “Hitler usou o termo ‘evolução’ em ‘Mein Kampf’?”, publicado em 2012 no site “Evolution News and Views”, desse instituto. Nesse texto, ele relaciona seis traduções para o inglês do livro doutrinário do nacional-socialismo, escrito por Adolf Hitler, e afirma que os respectivos tradutores empregaram a palavra “evolution” no lugar do termo original alemão “Entwicklung”.
De fato, o substantivo feminino alemão “Entwicklung”, que é traduzido principalmente por “desenvolvimento”, também o pode ser para “alargamento”, “revelação”, “desdobramento” e até “evolução”. Acontece que a teoria da evolução é usualmente designada em alemão por “Theorie der Evolution” e, sobretudo, por “Evolutionstheorie”.
Independentemente dessa forçada de barra, vale observar que, na verdade, no pensamento de Hitler a suposta superioridade ariana não era fruto de algo como a seleção natural, como ele próprio afirmou em um famoso trecho do capítulo 1 da segunda parte de “Mein Kampf”. Nessa passagem, o líder nazista apontou a suposta raça ariana como “maravilha do Criador”.
Em outras palavras, apesar de todo o tempo que dedicou a comparar a seleção natural com o nazismo, Weikart não entende o que é uma coisa nem a outra. A explicação para isso foi dada há anos por Millôr Fernandes: “O pior cego é aquele que quer ver”.