Acabo de chegar a Barra do Garças, no Mato Grosso, onde o pessoal que ainda confunde desmatamento com progresso tem novo motivo para comemoração. Palco da expansão desenfreada da soja em áreas de cerrado e de floresta, este Estado, na semana passada, apareceu mais uma vez em posição de destaque no projeto Degrad, que mapeia as áreas de degradação florestal na Amazônia Legal. Os dados de 2011, 2012 e 2013 foram apresentados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) sexta-feira, dia 12.
Esse estudo não abrange as áreas desmatadas por meio do chamado corte raso, que já alcançaram 759 mil quilômetros quadrados da Floresta Amazônica até 2013 e equivalem à metade do Amazonas, ou, em números internacionais, são maiores que o triplo da área do Reino Unido ou que o dobro da Alemanha, como mostrei na Folha na reportagem “Devastação amazônica é equivalente a duas Alemanhas” (5.jun).
Na verdade, trata-se da continuação de outro levantamento, que apontei neste neste blog no post “A devastação que não aparece no mapa” (também em 5.jun). Ele abrange as áreas expostas à degradação florestal progressiva pela exploração predatória de madeira, com ou sem uso de fogo, mas que ainda não foram convertidas a corte raso. Naquele post eu mostrei os dados de 2007 a 2010. Na sexta-feira, o Inpe mostrou os números dos anos seguintes, que agora completam a tabela a seguir.
Essas áreas degradadas, que são predominantemente “cicatrizes de incêndios florestais”, como costuma explicar Dalton Morrisson Valeriano, gerente do Programa Amazônia do Inpe, têm seu comportamento anual muito influenciado por variações climáticas. Por essa razão elas oscilam muito de um ano para outro.
Mato Grosso manteve a liderança nessa modalidade seletiva de desmatamento. O Estado tem sido um constante destaque negativo em toda a história dos programas de monitoramento do Inpe, inclusive no projeto Prodes (programa Desmatamento), que mede o corte raso, cujos dados desde 2007 estão na tabela seguinte.
Depois de sucessivas quedas desde 2009, a taxa anual de desmatamento por corte raso teve um pequeno crescimento em 2013. Entre os Estados, o campeão foi o Pará, mantendo sua lamentável liderança. Ao Mato Grosso coube, além da segunda posição, o primeiro lugar no aumento proporcional: 51,2% em relação a 2012.
Para poucos
Para piorar, essa devastação ambiental nem sequer é capaz de favorecer os aspectos sociais, como mostrou luta pesquisa, coordenada por divulgada nesta semana pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia). O estudo, que comparou índices de desenvolvimento social de diversas regiões do país, mostrou que comparada com o restante do Brasil, a Amazônia apresenta resultados inferiores para todas as dimensões e quase todos os componentes do IPS (Índice de Progresso Social), criado em 2013.
Ao comentar a relação entre o desmatamento e indicadores de bem-estar, o relatório do Imazon destacou outro trabalho de pesquisadores do próprio instituto, publicado em abril de 2012 na revista científica “World Development”. De acordo com artigo, esses índices, principalmente os que englobam aspectos econômicos, tendem a seguir um padrão boom-colapso, ou seja, eles “crescem nos primeiros anos após a abertura da fronteira e desmatamento e tendem a se equilibrar e apresentar queda nos anos subsequentes quando o recurso florestal se esgota”.
Em outras palavras, se tem havido lucro com toda essa devastação da Amazônia, só pode ser para poucos.