A temperatura média mundial combinada das superfícies dos solos e dos mares em agosto deste ano, que foi de 16,35° C , foi a maior já registrada para esse mês nos últimos 134 anos, informou ontem (quinta-feira, 18.set) a Agência Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (Noaa). Essa medida superou em 0,75° C o recorde anterior de 15,6° C, de agosto de 1998.
O trimestre de junho a agosto deste ano também foi o recordista desde 1880 desse mesmo tipo de medição, com 0,65oC acima da média de 16,4° C de todo o século 20, segundo o boletim da agência.
Na medição de agosto, pesou mais a temperatura média da superfície dos oceanos, que foi também a maior desde o início das medições no século 19, com 0,63° C acima da média do século 20. Para os solos, o mês passado foi o quinto maior nesse período.
Essas medidas não correspondem às da temperatura atmosférica, que também não acompanha necessariamente essas oscilações. Tomando como exemplo a cidade de Ribeirão Preto, onde não chove há seis anos em agosto, o mês passado teve a média de 29,7, menor que os 29,8 do seu correspondente em 2008 (ver reportagem).
Aquecimento global
O que importa nessa notícia da Noaa é ela ser mais um dado de corroboração da teoria do aquecimento global a partir da expansão da Revolução Industrial no século 19, decorrente do aumento das emissões dos chamados gases estufa —principalmente o gás carbônico— não só por meio do uso de carvão e derivados de petróleo na indústria e em veículos, mas também por meio de queimadas de florestas, áreas agrícolas e outras coberturas vegetais.
Não sigo a onda de chamar de “céticos” aqueles que assim se autorrotulam e contestam as conclusões científicas de que o aquecimento global provocado pela ação humana. Por eles não apresentarem objeções cientificamente consistentes a essa teoria, seu uso desse termo é uma distorção do significado de ceticismo, principalmente no sentido da teoria do conhecimento, que tem como um dos exemplos mais conhecidos a dúvida metódica apresentada pelo filósofo francês René Descartes (1596-1650) em suas “Meditações”.
A expressão “céticos do clima” e suas variações passaram a ser larga e erroneamente empregadas a partir do lançamento do livro “O Ambientalista Cético”, do estatístico dinamarquês Bjorn Lomborg. Para refutar a tese do aquecimento global, Lomborg questionou-a com estudos de pesquisadores, mas praticamente só usou dados de imprensa para mostrar as respostas a essas contestações. Em 2003, o Comitê Dinamarquês sobre Desonestidade Científica concluiu que essa unilateralidade se enquadrava em seus critérios de má-conduta na pesquisa.
Só para lembrar, em junho deste ano uma pesquisa publicada por cientistas ligados ao IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) concluiu que o derretimento das geleiras já teria atingido um ponto sem retorno, ou seja, impedindo a recomposição do manto de gelo ou até mesmo podendo conduzir à expansão de seu derretimento em níveis capazes de inundar várias regiões litorâneas.