Um dia especial do gráfico desinformativo da Sabesp

Por Maurício Tuffani
Sabesp_Situacao-dos-Mananciais_20-09
Página “Situação dos Mananciais”, do site da Sabesp. Imagem: Reprodução.

Este sábado (20.set) é um dia especial da página “Situação dos Mananciais” do site da Sabesp. Nesta data, ela mostra igualadas em 8,2% as duas barras do gráfico do armazenamento do sistema Cantareira. Desde maio, quando começou a ser usado o chamado volume morto, isso está induzindo enganosamente a imagens menos alarmantes do que a realidade desse conjunto de represas que abastece cerca de 9 milhões de habitantes da região metropolitana de São Paulo.

O volume de água disponível para consumo não é 8,2% mas 6,9%, se for calculado sem o artifício de desconsiderar a parte da reserva acrescentada ao volume útil em 15 de maio. É o que mostra o gráfico a seguir, que também apresenta visualmente outros aspectos relevantes do armazenamento do sistema Cantareira, lamentavelmente desconsiderados nesse mecanismo de divulgação dessa empresa paulista que possui um corpo técnico de elevado padrão.

Voulme-Sistema-Cantareira_20-09

A conta

Imaginem uma fazenda com 982 hectares disponíveis para o plantio de árvores e que recebe anualmente de uma ONG um apoio financeiro com base no percentual de área plantada. Dessa área total, apenas 80 hectares estão plantados —ou seja, 8,2% da capacidade— e que estavam diminuindo, pois o dono não plantava mais nada e ainda cortava árvores para produzir lenha e vender.

Para melhorar esse índice, o proprietário comprou 182,5 hectares cobertos por árvores de uma fazenda vizinha, aumentando para 262,5 hectares o total a ser considerado para o apoio financeiro, correspondente a 22,5%, correspondente aos da nova área total disponível, que cresceu para 1.164,5 hectares com a incorporação.

Mas em seu relatório para a ONG no ano seguinte, o fazendeiro apresentou um índice bem maior, de 26,9%, também baseado no novo total de 264,5 hectares cobertos por árvores, mas que desconsiderou a ampliação da área total. Ou seja, ele fez um cálculo enganador com base no dado anterior de 982 hectares.

Valor

Nos três parágrafos acima, basta substituir hectares por bilhões de litros para concluir que não passa de conversa fiada o argumento de que as duas formas de cálculo são válidas.

Alguém pode reclamar dessa interpretação, dizendo que ela introduz outro elemento, que é o dinheiro. Na verdade, ela leva em conta muito mais que o dinheiro. Ela considera o valor da água, que não se resume ao monetário.

Além de seus percentuais distorcidos diariamente desde maio, o pior dos gráficos perpetrados nessa página da Sabesp é sua indigência informativa, incompatível com a necessidade de esforços maiores e mais consistentes de conscientização da população para a economia de água.