De 1970 a 2010, no mesmo período em que a população humana praticamente dobrou para cerca de 6,9 bilhões, a Terra perdeu 52% de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes, segundo o “Relatório Planeta Vivo” (“Living Planet Report”), divulgado nesta terça-feira (30.set) pelo WWF (Fundo Mundial para a Natureza) em parceria com a Sociedade Zoológica de Londres.
A redução de fauna foi mais intensa na América Latina, com uma queda de 83%, maior que a da média das regiões tropicais, que foi de 56%, segundo o relatório, que já está em sua décima edição bianual. Nas regiões temperadas, a diminuição média foi de 36%.
Nos ambientes terrestres em geral, a redução de fauna vertebrada foi de 39%. Nos ambientes marinhos, a diminuição foi de 36%, enquanto nos de água doce foi ainda maior, de 76%.
Essas estimativas se baseiam no Índice Planeta Vivo (LPI, na sigla em inglês), que é calculado em função da variação de 10.380 populações de 3.038 espécies de vertebrados. A confiabilidade do indicador é de 95%, segundo o relatório.*
Causas
“Esses [seres vivos] são as formas vivas que constituem a estrutura dos ecossistemas que sustentam a vida na Terra —e são um barômetro do que estamos fazendo com nosso próprio planeta, nossa única casa”, afirmou Marco Lambertini, diretor-geral do WWF. “Ignorar este declínio é correr um grave risco.”
As principais causas apontadas pelo relatório para essas reduções são a perda e a degradação de grande parte dos hábitats naturais por meio de desmatamentos e de outras formas de exploração dessas áreas, como a caça e a pesca. “Precisamos de um planeta e meio para satisfazer nossa demanda atual por recursos naturais”, diz o documento.
As mudanças climáticas são a segunda ameaça primária mais significativa e é provável que exercerão mais pressão sobre as populações no futuro, segundo o documento.
Pegada ecológica
O relatório também teve a colaboração das ONGs Global Footprint Network e Water Footprint Network. As duas entidades trabalham com o conceito de “pegada ecológica”, que é a medida da quantidade de área biologicamente produtiva necessária para suprir a demanda humana por áreas de cultivo, pastagens, áreas urbanizadas, estoques pesqueiros e florestas produtivas.
O peso dessa sobrecarga ecológica varia entre entre países. “Por exemplo, se todas as pessoas do planeta tivessem uma pegada ecológica do tamanho da pegada per capita do Catar, precisaríamos de 4,8 planetas. Se tivéssemos o mesmo estilo de vida de uma pessoa dos Estados Unidos precisaríamos de 3,9 planetas. No caso de Eslováquia ou Coreia do Sul, precisaria de 2 ou 2,5 planetas, respectivamente, enquanto uma pessoa da África do Sul ou Argentina precisariam de 1,4 ou 1,5 planetas”, afirma o relatório.
O “Relatório Planeta Vivo” é elaborado bianualmente pelo WWF, que foi fundado em 1961 em Gland, na Suíça, e atua em mais de cem países, inclusive o Brasil.
“Considerando as dificuldades inerentes ao levantamento de populações animais, o WWF faz um trabalho sério, com as melhores fontes disponíveis e as melhores séries temporais”, afirma o biólogo Fábio Olmos, consultor especializado em fauna.
“As conclusões do estudo mostram algo que é óbvio, mas que o mundo parece ignorar: quanto mais gente no planeta, menos de todo o resto”, diz Olmos.
PS – A informação (*) foi acrescentada em atendimento ao comentário do leitor João B. Leme.