Este é o primeiro de três posts que publicarei em complemento às informações de minha reportagem “Produção científica no Brasil fica menos concentrada em SP”, publicada pela Folha nesta segunda-feira (13.out). É a primeira vez que a imprensa apresenta dados comparativos da quantidade e da qualidade da publicação de artigos científicos anualmente de 1981 a 2013 de todo o Brasil e das três universidades estaduais paulistas, que são a USP, Unicamp e Unesp.
Pelo menos um terço de toda a produção científica anual brasileira de 1981 a 2009 correspondeu às estaduais paulistas. Essa participação alcançou 40% em 1993 e se manteve em 44% de 2004 a 2006, mas diminuiu a partir de 2010, chegando a 37% em 2012 e 2013.
“Essa é uma diminuição desejável, pois na última década foram criadas novas universidades federais”, disse o físico Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor-científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), que a pedido da reportagem tabulou dados da base Web of Science, mantida pelo grupo de informações Thomson Reuters.
O jornal apresentou a opinião do biólogo Marcelo Hermes-Lima, professor da Universidade de Brasília (UnB), que se referiu a uma “pressão sem limite para se publicar cada vez mais rápido em vasta quantidade” por parte da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), que não atendeu à reportagem.
Assim como outros pesquisadores que entrevistei, Hermes-Lima destacou que no Brasil a aprovação de apoio financeiro para projetos de pesquisa de um modo geral se baseia na análise dos currículos de pesquisadores na Plataforma Lattes, do CNPq (ver links de pesquisadores neste post). O biólogo da UnB ressaltou também que a Fapesp não procede dessa forma. Esses currículos são muito extensos e apresentam dados sobre toda a atuação profissional dos cientistas.
Currículo e súmula
Brito explicou que desde 2008 a agência reforçou seus critérios em favor da qualidade na avaliação de projetos, e deu como exemplo a norma vigente a partir desse ano de apresentação, por parte de pesquisadores, de súmulas curriculares nas quais se exige a indicação de até dez resultados científicos (papers, livros, patentes, softwares etc.) com um parágrafo explicativo de relevância sobre essas indicações.
O professor de matemática Francisco Miraglia Neto, diretor da Adusp (Associação de Docentes da USP), disse que a Fapesp é diferenciada em todo o Brasil por acompanhar padrões exigentes do exterior. Ao comentar a súmula curricular exigida pela Fapesp, ele ressaltou que instituições estrangeiras também procedem dessa forma e chegam a limitar ainda o número de resultados científicos a serem apresentados, como a Universidade Princeton, nos Estados Unidos, que permite a indicação de no máximo quatro itens.
Referindo-se à aprovação de apoio a projetos sem levar em conta critérios de qualidade, Miraglia disse que “a pesquisa é atividade intelectual e artesanal que não pode ser submetida a critérios de produtividade de mercado”.
Tudo isso dá uma boa discussão. Amanhã farei outro post com dados completos dos quadros apresentados hoje pela Folha e mais informações que obtive ao prospectar esse assunto.