Enquanto resta pouco para acabar a primeira parte de volume morto do sistema Cantareira disponibilizada desde maio, parece que já secaram as fontes de informações atualizadas diariamente sobre esse conjunto de reservatórios que ainda abastece mais da metade da população da região metropolitana de São Paulo.
Desde sexta-feira (17.out) a Sala de Situação da ANA (Agência Nacional de Águas) não tem atualizado seus boletins diários sobre o sistema Cantareira, elaborados pelo órgão e pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo. Até as 12h00 deste domingo, o boletim mais recente desse site ainda era o de quinta-feira (16.out).
De acordo com a segunda tabela desse documento, até a manhã daquele dia já haviam sido consumidos 160,39 bilhões dos 182,47 bilhões de litros da primeira parte do volume morto disponibilizada para consumo a partir de maio, mostrados na primeira tabela.
Calculado sem o estranho artifício sabespiano de calcular percentuais sem acrescentar ao divisor o mesmo volume morto somado ao dividendo, que já expliquei neste blog em outros posts (o último deles foi “Um dia especial do gráfico desinformativo da Sabesp”, de 20.set), o armazenamento de água do sistema Cantareira em 16 de outubro era de 1,9% do volume útil total, como mostra a ilustração a seguir.
Não está sendo atualizado nem mesmo o mais conhecido dos meios de divulgação sobre o Cantareira, a página da Sabesp “Situação dos Mananciais”, que a partir de 23 de maio passou a apresentar percentuais calculados dessa forma “menos pessimista” —para não usar outro adjetivo. No dia 16, a companhia induzia as pessoas a acreditarem que havia ainda 4,1% de água do volume útil total do sistema, conforme o gráfico a seguir.
Reparem que no parágrafo abaixo do gráfico é afirmado que “foram acrescidos 18,5% ao volume total do sistema”. Tecnicamente isso é um contrassenso, pois não se pode somar percentual, que é um número “puro” com uma quantidade, no caso de volume.
Com base em sua estranha metodologia, a Sabesp informou, quer dizer, afirmou que hoje restavam 3,6% (ver reportagem) e que o armazenamento subirá para 14,6% se for usada a segunda parte do volume morto.
Desse modo, não se perdeu muita coisa com essa descontinuidade, pois o que esse meio sempre forneceu se limitou a percentuais desacompanhados do dado que mais importa, que é o volume de água. O que vinha fazendo diferença na prestação de informações com um mínimo de transparência à população eram os boletins diários da Sala de Situação da ANA.
Tentei fazer contato hoje com a ANA para saber se os boletins sobre o sistema Cantareira voltarão a ser publicados diariamente, mas não consegui. Vamos torcer para que sejam regularizados o mais rápido possível.
PS – Em atenção ao post acima, o diretor-presidente da ANA, Vicente Andreu, encaminhou e-mail para este blog afirmando que os boletins diários não foram produzidos porque a agência não recebeu os respectivos dados da Sabesp. Ele acrescentou que “espera” que até amanhã tudo esteja regularizado. Ou seja, ele não pode garantir porque depende da estatal paulista. Já questionei a companhia e aguardo a resposta.