Um gráfico fiel da situação do Cantareira

Por Maurício Tuffani
Marca da seca na represa do sistema Jaguari-Jacareí, em Piracaia (SP), que abastece parte da capital e alguns municípios. Imagem: Moacyr Lopes Junior/Folhapress
Marca da seca na represa do sistema Jaguari-Jacareí, em Piracaia (SP), que abastece parte da capital e alguns municípios. Imagem: Moacyr Lopes Junior/Folhapress

Amanhã, quarta-feira (29.out), 29 ONGs apresentarão 196 ações de curto prazo e outras 191 de longo prazo para que o Estado de São Paulo possa enfrentar sua grave crise hídrica atual. A mobilização Aliança pela Água envolve grandes entidades nacionais, como o Instituto Socioambiental e a Fundação SOS Mata Atlântica, assim como organizações de atuação internacional, como Greenpeace, The Nature Conservancy, World Resources Institute e WWF.

O evento será transmitido ao vivo pela internet a partir das 9h.

A organização da campanha produziu ótimas ilustrações sobre as condições em que se encontra o sistema Cantareira, que foram mostradas na edição desta terça-feira (28.out) da Folha pelo jornalista Marcelo Leite em sua reportagem “ONGs apontam má gestão do sistema Cantareira”.

Um desses gráficos é a melhor representação visual já divulgada sobre a situação desse conjunto de reservatórios que abastece mais de metade da população da região metropolitana de São Paulo. Ei-lo.

ISA_Cantareira

Enquanto esse quadro mostra claramente que o armazenamento está abaixo do zero operacional desde 12 de julho, a Sabesp insiste em manter em seu site “Situação dos Mananciais” um modelo “tudo pra cima” para seu gráfico de armazenamento desse sistema, que não tem sido exatamente, digamos, eficiente para mostrar a gravidade da situação de seus reservatórios.

O pior é que apesar de nem sequer ter começado a bombear a segunda parte do volume morto, a Sabesp já está apresentando desde sexta-feira (24.out) gráficos baseados em dados dessa reserva, fazendo suas barras serem mais altas.

Causas da crise

De acordo com o comunicado da Aliança pela Água distribuído hoje, os fatores que levaram à crise hídrica em nosso Estado são:

a) ênfase dos governos na retirada de mais água de rios e mananciais, e não no uso racional do recurso;

b) desmatamento nas áreas de mananciais e poluição das fontes de água em quase todo o estado;

c) seca extrema, em especial no Sistema Cantareira;

d) pouco espaço para participação e falta de transparência quanto à gestão da água. Agravados por um outro fator: a resistência dos governos em tomar medidas mais firmes em um ano eleitoral.

O comunicado afirma que esses fatores foram agravados pela “resistência dos governos em tomar medidas mais firmes em um ano eleitoral”. Não é nenhum exagero em vista da afirmação feita no início deste ano pela presidente da Sabesp, Dilma Pena, revelada em gravação mostrada pela Folha na reportagem “‘Orientação superior’ impediu alerta maior sobre crise, diz presidente da Sabesp” (24.out). Segue transcrição parcial do áudio com a fala da presidente da estatal paulista.

“Cidadão, economize água. Isso tinha de estar reiteradamente na mídia, mas nós temos de seguir orientação, nós temos superiores, e a orientação não tem sido essa. Mas é um erro. (…) É um erro. Tenho consciência absoluta, e falo para as pessoas com quem eu converso sobre esse tema, mesmo meus superiores.”

O governo respondeu que “nunca vetou qualquer alerta sobre a crise hídrica”. “Ao contrário, o próprio governador concedeu mais de uma centena de entrevistas coletivas, desde fevereiro, para salientar a gravidade da maior seca já registrada na história”, afirmou nota do Palácio dos Bandeirantes.

Na verdade, eram e ainda são necessárias ações de comunicação voltadas efetivamente não só à orientação da população, apontando providências a serem efetivamente tomadas para economia de água, mas também à gravidade da situação, mostrando a situação dos reservatórios sem retoques, e não entrevistas do governador ou campanhas publicitárias com céus azulados e pessoas sorridentes em vídeos exaltadores, como “Coragem, determinação e solidariedade”.

Parabéns às ONGs pela iniciativa. Mas teria sido melhor ela ter acontecido mais cedo. Inclusive antes do primeiro turno das eleições.