Deputado faz confusão sobre desmatamento na Cantareira

Por Maurício Tuffani
O deputado Chico Alencar (Psol-RJ). Foto: Roberto Jayme/UOL
O deputado Chico Alencar (Psol-RJ). Foto: Roberto Jayme/UOL

Já que tenho criticado não só a Sabesp, mas também o governo do Estado em relação à situação do sistema Cantareira, sinto-me na obrigação de hoje mostrar uma acusação equivocada contra o Executivo estadual justamente sobre um dos temas que tenho abordado em reportagens na Folha e em posts neste blog.

A iniciativa de adversários do PSDB de apoiar pedido de impeachment contra o governador Geraldo Alckmin já começou a promover confusão de alhos com bugalhos sobre a situação do sistema Cantareira. Na terça-feira, em pronunciamento no Congresso Nacional, o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) se referiu erroneamente ao desmatamento na região do sistema Cantareira como se essa degradação tivesse acontecido nos últimos anos, ou seja, durante as gestões tucanas no governo estadual.

Na verdade, o parlamentar carioca interpretou equivocadamente um estudo da Fundação SOS Mata Atlântica —que anunciei em reportagem no dia 9 e comentei em post no mesmo dia—, que apontou o agravamento do potencial hídrico do Cantareira devido ao nível do desmatamento na região da bacia hidrográfica desse sistema nos últimos 30 anos.

Ou seja, a devastação de que a entidade reclama aconteceu muito antes dos 20 anos de sucessivos governos tucanos neste Estado, diferentemente do que faz parecer o pronunciamento do parlamentar no trecho a seguir, extraído do site “Viomundo”.

“(…) estudo da Fundação SOS Mata Atlântica mostra que o desmatamento intenso de quase 80% da vegetação nativa da bacia hidrográfica da Cantareira é um dos responsáveis diretos pela crise de abastecimento. Com pouca vegetação, a floresta não consegue desempenhar o seu papel, de reabastecer os lençóis freáticos e impedir a erosão do solo e o assoreamento de rios, protegendo as nascentes e todo o fluxo hídrico. Mais uma grave omissão do poder público —inclusive deste Congresso Nacional, que produziu grave retrocesso ambiental nesta Legislatura, ao aprovar, em 2012 (com a nossa oposição), o novo Código Florestal, que criou condições mais favoráveis ao desmatamento e assoreamento de rios.”

Ao contrário do que faz parecer afirmou o deputado, São Paulo é um dos Estados brasileiros que mais têm preservado sua cobertura vegetal nativa nas últimas décadas, e a própria ONG tem reconhecido isso em todas as divulgações de seu Atlas da Mata Atlântica.

Não faltam motivos para criticar o governo estadual e também o federal e os municipais em relação à atual crise hídrica, especialmente no que se refere ao sistema Cantareira, que ainda abastece mais da metade da população da região metropolitana de São Paulo. Mas acusações equivocadas certamente não ajudam a resolver o problema.