O que há por trás das citações entre cientistas

Por Maurício Tuffani

Há outras razões para pesquisadores citarem outros estudos além do imperativo ético e técnico de referenciar as fontes de informações de que se faz uso. É o que afirmam os suecos Martin G. Erikson, da Universidade de Borås, e Peter Erlandson, da Universidade de Göteborgs, no trabalho “A taxonomy of motives to cite”, publicado na revista britânica “Social Studies of Science” em agosto.

No resumo de seu estudo, os autores afirmam que um artigo em sua forma final mostra muito pouco da realidade do comportamento de suas citações e que a análise meramente quantitativa dessas referências pode ser enganosa. Na verdade, os dois pesquisadores abordam com base em dados aquilo que já se sabe amplamente na comunidade científica com base na vivência do dia a dia, desde a necessidade real de fazer referência por parte de profissionais sérios à mera troca de favores entre cientistas e grupos de pesquisa.

Fiquei sabendo desse artigo pelo post “Estudo propõe uma taxonomia de razões para citar artigos em publicações científicas”, publicado ontem (sexta, 7.nov) pelo  blog “SciELO em Perspectiva”, que faz uma interessante apresentação do artigo, cujo acesso não é gratuito (US$ 30 para quem não é assinantes ou membro de instituições conveniadas) e, logo no início já afirma:

“(…) a importância das citações na comunicação científica moderna e na cienciometria vai muito além da simples atribuição de autoria, ou reconhecimento das ideias originais de outros autores. Citações converteram-se em moeda valiosa que confere credibilidade, visibilidade e prestígio, transformando-se em proxy de qualidade.”

Segundo Erikson e Erlandson, a tipologia por eles proposta se aplica a qualquer área do conhecimento e se divide nas quatro categorias de motivações seguintes:

  • argumentação, que se subdivide em delimitação, suporte ativo, crítica ativa, suporte passivo e leitura suplementar;
  • alinhamento social, que tem como subtópicos tradição científica, autoimagem científica e compensação de esforço;
  • alinhamento mercantil, que abrange crédito, credenciais próprias, moeda de troca, autopromoção e compromisso; e
  • dados, que se subdivide em revisão, metanálise e texto de estudo.

Não li ainda a íntegra do artigo, mas acho que vale a pena destacar desde já que vale a pena ler também o post da SciELO, que faz uma boa contextualização por meio de outras fontes.