Um dos principais fatores para a aceitação das chamadas teorias da conspiração é nossa atração por narrativas de confronto entre o bem e o mal, destacaram os pesquisadores Eric Oliver e Thomas Wood, da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, em um artigo publicado na revista de divulgação científica britânica “New Scientist” na segunda-feira (22.dez).
Os adeptos de teorias de conspiração não são apenas pessoas como aquelas que acreditam que o 11 de Setembro foi tramado pelo próprio governo norte-americano, ou as que revestem suas cabeças com papel-alumínio, pensando se proteger de métodos eletrônicos de espionagem por escaneamento cerebral.
Segundo os dois pesquisadores, cerca de 49% da população dos EUA, independentemente do grau de instrução e etnia, concorda com pelo menos uma dessas crenças, como a de que os serviços de saúde do país vacinam crianças apesar de saberem que esses medicamentos provocam autismo e distúrbios psicológicos.
A estimativa é baseada em quatro pesquisas realizadas de 2006 a 2011 nos Estados Unidos com 1. 351 adultos e publicadas por Oliver e Wood neste ano nas revistas científicas “Journal of American Medical Association” e “American Journal of Political Science”. Embora a maioria dos especialistas descartem essas crenças como delírios paranóicos, as evidências desses estudos apontam causas mais complexas e não necessariamente no âmbito patológico.
Nesta semana, ao explicar esses estudos em seu artigo “Por que somos tão ansiosos para abraçar as teorias da conspiração?”, na “New Scientist”, eles afirmaram:
“O cérebro não evoluiu para processar a informação sobre economias industriais, terrorismo ou medicina, mas para a sobrevivência na selva. Isso inclui a tendência a acreditar que predadores invisíveis estão à espreita e que eventos coincidentes estão relacionados de alguma forma. As teorias conspiratórias refletem como nós intuitivamente entendemos nosso mundo e, ironicamente, transmitem segurança emocional. São histórias com sujeitos bons e maus, conflitos, solução e outros elementos narrativos que têm um apelo natural. No final das contas, para os adeptos as teorias da conspiração dão a sensação de verdade.”
Além da narrativa sobre a vacinação, as pesquisas investigaram a aceitação de outras cinco teorias conspiratórias: a FDA estaria boicotando tratamentos naturais de câncer e outras doenças por pressões de fabricantes de medicamentos —será que não houve “mancadas” que ajudaram essa crença?—; serviços de saúde sabem que celulares causam câncer, mas não fazem nada contra isso por pressão das companhias telefônicas; a proliferação de sementes transgênicas faz parte de um plano secreto de corporações para diminuir a população mundial; e a fluoração da água faz parte de uma estratégia secreta de indústrias químicas para despejar resíduos no meio ambiente.
Segundo Oliver e Wood, sem considerar o “rebocador emocional” das teorias da conspiração não poderemos compreender as pessoas que usam chapéus de papel alumínio.
É uma conclusão interessante, mas há razões para crer que muitos escritores de ficção científica e roteiristas e produtores de Hollywood chegaram a ela muito antes e intuitivamente.
PS — Poucos minutos após eu divulgar o post acima no Facebook, o leitor Sandro Abel, observador atento dos propagadores de crendices, comentou sobre meu último parágrafo: “os gurus da ‘verdade mais verdadeira que as outras verdades’ também sabiam”. Realmente!
PS 2 — O biólogo Roberto Takata, doutor em genética e biologia evolutiva pela USP e um dos grandes militantes da divulgação científica do Brasil, publicou em seu blog “Gene Repórter”, em 2009, um post sobre outro estudo, realizado com 348 moradores do sudoeste de Nova Jersey, EUA, que mostrou que 93,9% dos respondentes a uma entrevista por telefone acreditavam em algum grau em pelo menos uma de uma lista de 10 teorias conspiratórias. Cliquem aqui para ler o post e também para conhecer o blog, que recomendo.