Em atenção ao post deste blog “A pesquisa sobre cartas de Chico Xavier” (23.jan), o psiquiatra Alexander Moreira-Almeida, professor da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) e autor sênior do estudo publicado em setembro pela revista norte-americana “Explore”, enviou mensagem com alguns esclarecimentos importantes.
Segundo a conclusão desse trabalho, são verídicas as informações de 13 cartas redigidas de 1974 a 1979 pelo médium Chico Xavier (1910-2002) e por ele atribuídas ao estudante Jair Presente, morto por afogamento na cidade paulista de Americana aos 24 anos de idade em 1974.
O estudo teve a colaboração de Alexandre Caroli Rocha (doutor em teoria e história literária pela Unicamp e pós-doutor pela Faculdade de Medicina da USP), a jornalista Denise Paraná (doutora em Ciências Humanas pela USP, pós-doutora pela Faculdade de Medicina da USP e autora da biografia autorizada “A História de Lula, o Filho do Brasil”), a psicóloga Elizabeth Schmitt Freire (Universidade de Aberdeen, Escócia) e o psiquiatra Francisco Lotufo Neto (FM-USP).
Agradeço ao professor Moreira-Almeida por atenciosa sua mensagem e por suas explicações, que transcrevo a seguir a mensagem com alguns ajustes de edição.
Olá, Maurício.
Obrigado pelo interesse em nosso trabalho.
Como você sabe, este é um tema espinhoso e controverso, e, por isso, com grande necessidade de ser investigado e discutido academicamente. Por isso temos realizado pesquisas na área e submetido nossos achados à avaliação de nossos pares da comunidade científica nacional ou internacional através de revistas, congressos, livros e agências de fomento.
Gostaria de parabenizá-lo pelo equilíbrio na análise do artigo. Equilíbrio que tem muitas vezes faltado tanto nos que criticam quanto nos que elogiam o artigo. Por isso, estou escrevendo para você.
Há um comentário em seu post com o qual você diz concordar, mas que tem alguns problemas.
“dizer que essas informações obrigatoriamente tenham sido obtidas por qualquer meio psíquico sem antes comprovar que o dito médium de maneira nenhuma poderia tê-las obtido por outras vias tidas como normais. Isso não foi feito.”
1) Não dissemos em nenhum momento que as informações foram obrigatoriamente obtidas por um “meio psíquico”. O que dissemos é ser improvável (e não impossível) que o conjunto de informações, algumas muito pessoais e desconhecidas mesmo de amigos e dos familiares que visitaram Chico Xavier, tenha sido obtido por vias convencionais. Claro que há pessoas que podem discordar, o que é saudável. Mas seria preciso então fornecer uma outra explicação mais plausível e que dê conta do conjunto de informações obtidas, não de apenas algumas mais fáceis de serem explicadas convencionalmente (o que tb reconhecemos ser possível para muitos itens de informação).
2) o que se pede no trecho acima (“comprovar que o dito médium de maneira nenhuma poderia tê-las obtido por outras vias tidas como normais”) e em muitas das críticas (mas nenhuma publicada em contexto acadêmico) é um “experimento crucial”, uma prova cabal, definitiva e irrefutável, que nunca poderia ser explicada de maneira alternativa. Isso é algo que se sabe bem em filosofia da ciência não existir em nenhuma ciência.
Naturalmente, defendemos e seguimos a navalha de Ockham. No artigo Investigando o Desconhecido: filosofia da ciência e investigação de fenômenos, na “Revista de Psiquiatria Clínica”, Silvio Seni Chibeni, do Departamento de Filosofia da Unicamp, discutimos esses e outros aspectos epistemológicos desse tipo de investigação.
Sobre o tema relação mente-cérebro, editamos recentemente pela editora Springer o livro “Exploring Frontiers of the Mind-Brain Relationship”.
Editamos uma série de artigos para a “Revista de Psiquiatria Clinica” (da USP) com base no livro. Os artigos estão em portugues e são de livre acesso on-line (primeiro fascículo).
Em maio deste ano, coordenarei duas mesas-redondas, uma delas sobre o tema da pesquisa, no Congresso Anual da Associação Psiquiátrica Americana, que junto com o Congresso Mundial de Psiquiatria é o mais importante do mundo nessa especialidade da medicina.
Terei sempre satisfação em receber suas críticas, comentários, dúvidas e sugestões.
Alexander Moreira-Almeida
Professor associado de Psiquiatria, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Diretor do NUPES (Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde da UFJF)
Coordenador da Seção de Religião, Espiritualidade e Psiquiatria da Associação Mundial de Psiquiatria
www.ufjf.br/nupes-eng
www.youtube.com/nupesufjf
O professor Moreira-Almeida tem razão ao destacar que em seu artigo ele e seus colaboradores afirmaram ser improvável, e não impossível —como eu erroneamente assumi— que as informações constantes nas citadas cartas de Chico Xavier tenham sido obtidas por vias convencionais. Reconheço meu erro, mas mantenho as demais informações, agradecendo mais uma vez ao pesquisador por seus esclarecimentos.