Revista de humanidades estreia com plágio

Por Maurício Tuffani
Anúncio de chamada para publicação de artigos do site do periódico indiano "International Journal Online of Humanities (IJOHMN)". Imagem: Reprodução
Anúncio de chamada para publicação de artigos do site do periódico indiano “International Journal Online of Humanities (IJOHMN)”. Imagem: Reprodução

Se a primeira impressão é a que fica, o periódico bimestral indiano “International Journal Online of Humanities (Ijohmn)” se deu muito mal em sua estreia em dezembro com um plágio descarado em um de seus cinco primeiros artigos.

Publicado no site desse periódico, o paper Um estudo comparativo sobre Gandhi e Nehru em suas autobiografias” começa com o seguinte texto.

“Autobiography is usually defined as a retrospective narrative written about one’s life, in the first person and in prose. Such writing has appeared with increasing frequency in Western Literature since the beginning of nineteenth century but after World War II, it gained considerable significance.”
(A autobiografia é geralmente definida como uma narrativa retrospectiva escrita sobre a vida de alguém, na primeira pessoa e em prosa. Essa escrita tem aparecido com freqüência crescente na literatura ocidental desde o início do século 19, mas ganhou uma importância considerável após a Segunda Guerra Mundial.)

Ontem (quinta-feira, 5.fev), em seu blog “Scholarly Open Access”, o biblioteconomista Jeffrey Beall, da Universidade do Colorado em Denver, nos Estados Unidos, mostrou que “coincidentemente” esse trecho corresponde às frases iniciais de um ensaio do escritor francês Joseph Sungolowsky, professor de literatura da Universidade da Cidade de Nova York.

A abertura desse ensaio pode ser vista pelo Google na página 91 do livro “Literatura do Holocausto” (2004) —editado pelo crítico literário Harold Bloom—, como mostra a imagem a seguir.

Imagem: Reprodução
Imagem: Reprodução

Nenhuma referência é feita ao trabalho de Sungolowsky no artigo do Ijohmn, que nem sequer aplica aspas ao trecho em questão.

O autor do paper, identificado pelo nome Deepak Singh, se apresenta como integrante da “Punjab University Chandigarh”. Mas as buscas pela internet remetem apenas para a Universidade Panjab, em Chandigahr, na Índia. Nessa instituição há um professor com nome parecido, cujo celular localizei, mas nenhuma ligação que fiz para seu número foi atendida.

BARATO E RÁPIDO

Uma vez que as taxas de publicação de artigos cobradas de seus autores por periódicos geralmente variam de centenas a milhares de dólares, Beall também destaca como a nova revista indiana de humanidades apresenta seus preços camaradas:

“Além disso, talvez reconhecendo que há relativamente poucas oportunidades de bolsas para os estudiosos de humanidades, este periódico tem uma taxa muito razoável para autores:
Assinatura & taxa de processamento para publicação on-line, 1200 rúpias para autores indianos e US$ 45 dólares para autores estrangeiros (sem custo adicional para co-autores.)”

Vale a pena observar que, além do preço realmente competitivo que cobra para publicar artigos, essa revista também se mostrou, pelo menos em relação à sua primeira edição, com um prazo bem rápido para a aceitação de trabalhos. Afinal de contas, como mostra a imagem capturada de seu site e mostrada acima, no início deste post, o periódico estava aceitando até ontem, dia 5, artigos para serem publicados no próximo dia 11.

Isso mostra um processo muito “ágil” entre o recebimento de um estudo e sua aprovação e aceitação para ser publicado. Em revistas que trabalham com critérios rigorosos de análise por revisores independentes, esse processo geralmente chega a exigir alguns meses.

Anotem o que digo: chegará o dia em que haverá anúncios pela televisão com ofertas de periódicos para publicação de artigos científicos com preços mais baixos e prazos para aceitação mais rápidos do que os dos concorrentes.