Há 350 anos nasciam as primeiras revistas científicas

Por Maurício Tuffani
"Primeiras páginas das edições inaugurais dos dois primeiros periódicos científicos do mundo, o francês "Jornal des Sçavans" (6.jan.1665) e o britânico "Philosophical Transactions of th Royal Society". Imagem: Reprodução e montagem/Maurício Tuffani/Folhapress
“Primeiras páginas das edições inaugurais dos dois primeiros periódicos científicos do mundo, ambos inaugurados em 1665, o francês “Jornal des Sçavans” (6.jan) e o britânico “Philosophical Transactions of th Royal Society” (6.mar). Imagem: Reprodução e montagem/Maurício Tuffani/Folhapress

O blog “Scielo em Perspectiva” lembrou na semana passada que a comunicação científica completou 350 anos desde o lançamento dos dois primeiros periódicos acadêmicos, o francês “Journal des Sçavans”, em 5 de janeiro de 1665, e dois meses depois o “Philosopical Transactions of the Royal Society” em 6 de março. Eles foram os precursores das dezenas de milhares de publicações científicas que existem hoje.

O Scielo informa, com base no indexado Ulrichs, que hoje existem mais de 70 mil periódicos que são editados por meio de revisão por pares (“peer review”) e que mais de 50 mil deles são publicados online.

Em seu livro “Conhecimento Público”, de 1968, o físico britânico John Ziman (1925-2005) destacou que a ciência moderna teve início pouco depois do surgimento da imprensa. Não se trata da imprensa no sentido do jornalismo, mas no sentido da impressão, da invenção gutemberguiana que no século 15 rompeu definitivamente o círculo fechado em torno do conhecimento escrito.

Na verdade, se considerarmos esse surgimento a partir da impressão da Bíblia por Guttemberg entre 1450 e 1455, que proporcionou a existência de cerca de 230 oficinas de impressão na Europa em 1500, veremos que a essa época corresponde o início do Renascimento.

No século seguinte, em sua obra “As Revoluções das Orbes Celestes”, de 1543, o astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) deu início à desconstrução do modelo aristotélico-ptolemaico do universo que levou a Johaness Kepler (1571-1630) e sua obra “Astronomia Nova” (1609), na qual propôs que as órbitas dos planetas eram elípticas, e não circulares, e que elas tinham como centro o Sol, e não a Terra.

Em 1610, após suas observações iniciadas no ano anterior, Galileu (1564-1642) publicou em seu “Siderius Nuncius” (“Mensageiro Sideral”) as evidências empíricas que corroboraram Kepler. Foi nesse contexto que surgiram esses dois primeiros periódicos.*

O periódico francês prosseguiu até 1792, que foi o ano mais sangrento da Revolução Francesa, com a guerra com o Império Austro-Húngaro e as sucessivas execuções pelas comunas e tribunais populares. A publicação voltou a ser editada em 1797 e em 1816, sendo retomada a partir de 1818, com interrupções em alguns anos, encerrando-se em 1984.

Desde fevereiro de 2014 o acervo completo do “Journal des Sçavans” até 1984 está acessível pela Biblioteca Nacional da França. A coleção a partir de 2008 está disponível no site da Academia de Inscrições e Belas-Letras.

O “Philosopical Transactions of the Royal Society” continua ativo em duas séries, A (física, matemática e engenharia) e B (ciências da vida).

A revolução gutenbergiana possibilitou a obras antes restritas a poucos, na forma de manuscritos feitos um a um, serem acessíveis a um número cada vez maior de leitores.

A partir dessa nova e revolucionária ferramenta, a recém-nascida ciência moderna não poderia ter deixado de se estruturar em função dela. Muito mais do que ser registrado, o conhecimento científico tinha de ser comunicado.


* Acréscimo corretivo. Os trechos em verde haviam sido suprimidos para encurtar o texto, mas isso o havia deixado com um erro de informação sobre Copérnico.