Embora tudo indique que a tendência é positiva, talvez ainda seja cedo para afirmar que o ano de 2014 foi realmente o primeiro nas últimas quatro décadas em que, sem ter havido queda na atividade econômica mundial, não houve aumento das emissões globais de dióxido de carbono (CO2) pela queima de combustíveis fósseis.
A notícia divulgada ontem (sexta-feira, 13.mar) pela IEA (Agência Internacional de Energia) em princípio é muito boa. Pode ser o anúncio de um marco histórico dos resultados da adoção de energias limpas e dos programas de reduções de consumo de combustíveis e eletricidade, transformando em um desempenho global o que já é realidade em alguns países europeus, como a Alemanha.
Os registros de emissões se referem apenas ao uso de carvão, derivados de petróleo e gás natural, e têm como referência inicial o ano de 1971. Eles apontam reduções anuais anteriores de emissões de CO2 somente em períodos de retração da economia global, como no início da década de 1980 e nos anos de 1992 e 2009.
Outros dados
No entanto, ainda é preliminar a estimativa da IEA de que em 2014 se manteve o mesmo dado de 2013, que registrou 32,3 bilhões de toneladas de emissões globais de CO2. A informação será detalhada e finalizada em um relatório a ser divulgado em junho, como informou o próprio comunicado da agência. O relatório sobre 2013 foi divulgado em setembro.
Além disso, as estimativas anuais da agência têm sido menores nos últimos anos que as do GCP (Projeto Carbono Global), uma iniciativa de pesquisadores e entidades não governamentais com foco em informações de referência sobre as emissões de (CO2). É o que mostra a tabela a seguir.
Mesmo que seja maior que a da IEA, será estranho se a estimativa do GCP para consumo de energia tão diminuir também.
Ao fazer essa divulgação preliminar, a agência destacou a seguinte avaliação otimista do economista-chefe Fatih Birol, nomeado recentemente para substituir a diretora-executiva da agência, Maria van der Hoeven.
“Isso me dá mais esperança ainda de que a humanidade será capaz de trabalhar em conjunto para combater a mudança climática, a ameaça mais importante que enfrentamos hoje.”
Contramão
Independentemente de ser confirmada ou não a boa notícia, a situação já está muito mal para a parte que cabe ao Brasil.
Enquanto outros países avançam com a produção de energia limpa sem atrapalhar sua economia, aqui, onde o PIB vem despencando, estamos mergulhando na dependência de combustíveis fósseis para compensar nossa falta de planejamento para a crise na produção de energia hidrelétrica.
Em nota também distribuída ontem, o Observatório do Clima destacou a seguinte declaração de Bárbara Rubim, coordenadora da campanha de energias renováveis do Greenpeace Brasil, que mostra o fracasso do Brasil nessa área.
“De 2011 a 2013 a participação das termelétricas na geração de eletricidade já saltou de 8,4 para 19,8%. Em 2014, 30% dessa geração veio das termelétricas, aí consideradas também a biomassa e a nuclear.”
Além de ter avançado negativamente nos últimos anos com o aumento de emissões na agropecuária, no consumo de energia, nos processos industriais e no trato com os resíduos, o Brasil já começa a retroceder no que estava indo bem, com a volta dos aumentos de desmatamentos, não só na Amazônia, mas também na Mata Atlântica, como mostram os dados do Observatório do Clima na tabela a seguir.
O desafio de ampliar as fontes de energia limpa não se restringe a objetivos ambientais. Ele está diretamente ligado à inovação, à melhoria da qualidade de vida e à competitividade da economia. Em todos esses desafios o Brasil está sendo um perdedor, e não uma “pátria educadora”.