Nem mesmo o desaquecimento da economia está conseguindo pelo menos manter o ritmo de desmatamento reduzido com sucesso de 2005 a 2013 na Amazônia. O corte raso na floresta dessa região, que já havia voltado a crescer no período 2013-2014, está aumentando ainda mais. É o que têm mostrado não só os recentes levantamentos preliminares oficiais do governo federal, mas também o monitoramento realizado paralelamente pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), sediado em Belém (PA).
O corte raso na parte brasileira da floresta Amazônica cresceu 215% de agosto de 2014 a fevereiro de 2015 em comparação com o mesmo período entre 2013 e 2014, segundo boletim do SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento), divulgado pelo Imazon na sexta-feira (20.mar)
Dobrou
Ao todo foram registrados 1.702 km2 de áreas de floresta derrubada nesses sete meses, em comparação com os 540 km2 no mesmo período entre 2013 e 2014, segundo o acompanhamento realizado pela ONG em paralelo ao monitoramento oficial do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
A medalha de ouro do uso da motossera ficou para Mato Grosso, que aumentou em quase sete vezes em relação ao seu desempenho anterior, respondendo por 35% do total de áreas devastadas nesses sete primeiros meses do atual calendário de desmatamento —as taxas anuais são computadas de agosto a julho pelo Inpe desde 1988. A prata foi “conquistada” pelo Pará (25%), seguido por Rondônia (20%), com a medalha de bronze da devastação, como mostra o quadro a seguir.
Os boletins do SAD são mensais. Para o mês de fevereiro, apesar de mais da metade (59%) da área florestal da Amazônia Legal ter sido coberta por nuvens, esse sistema detectou 42 km2 de desmatamentos. Esse dado corresponde a quase o triplo (282%) dos 11 km2 registrados em fevereiro de 2014, quando a cobertura de nuvens foi maior (69%).
Mata Atlântica
A devastação florestal também tem crescido na mata Atlântica, como têm mostrado os monitoramentos realizados pela Fundação SOS Mata Atlântica em parceria com o Inpe (“Desmatamento na mata atlântica tem alta de 9%”, 27.mai.2014).
O aumento da devastação florestal com queda na economia é ainda mais preocupante. Até alguns anos atrás os períodos de desaquecimento da atividade econômica sempre dificultaram os desmatamentos, chegando até a reduzi-los.
Antes de 2007, quando já havia começado a fase de reduções das taxas anuais de desmatamento da Amazônia por meio de programas de fiscalização do governo federal, o índice mais baixo havia sido o de 1991 Esse foi o ano posterior ao início do governo de Fernando Collor (1990-1992), que congelou investimentos, inclusive cadernetas de poupança.
Entre outros fatores, não há como desvincular esse retrocesso do esquartejamento do Código Florestal que foi alterado por uma lei aprovada em 2012, desprovida da sistematização normativa de preceitos ambientais e fundamentos científicos. Algumas pesquisas já deixaram clara essa conexão, como uma publicada pela revista “Science” em maio do ano passado.
Politicagens
Os alertas que já deveriam ter sido divulgados pelo governo federal antes das eleições no ano passado foram lamentavelmente postergados para não atrapalhar a candidata Dilma Rousseff (PT) com seu avatar “Coração Valente”. A estratégia foi semelhante à adotada em pelo governo de São Paulo, comandado pelo candidato à reeleição Geraldo Alckmin (PSDB), que empurrou para depois da votação as medidas que deveriam ter sido tomadas já no início do ano passado em relação à crise hídrica.
Até julho de 2014 foram desmatados 764.061 km2 da floresta Amazônica, uma área pouco maior que a da metade do Amazonas ou do triplo do Estado de São Paulo. Essa extensão corresponde a 19,1% da extensão original da floresta Amazônica, que era de aproximadamente 3,99 milhões de quilômetros quadrados.
Da mata Atlântica restam apenas 8,5% da cobertura original da grande floresta que na época do Descobrimento se estendia ao largo do litoral brasileiro do Rio Grande do Sul ao Ceará.
Desse modo, parece que estamos assistindo à volta da pátria desmatadora.