A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) pretende reavaliar dois pesticidas produzidos no exterior e usados no Brasil, o inseticida diazinon, de uso doméstico e agrícola, e o agrotóxico malation. O motivo foi a divulgação de um comunicado na semana passada por uma agência da OMS (Organização Mundial da Saúde), baseado em um estudo que apontou o risco de ação cancerígena de cinco pesticidas.
Divulgado na sexta-feira (20.mar) pela IARC (Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer), ligada à OMS, o comunicado mencionou um estudo publicado pela revista científica médica britânica “The Lancet Oncology”. A pesquisa incluiu também o herbicida glifosato, usado no Brasil e produzido pela Monsanto, que, segundo a Anvisa, já estava sendo reavaliado antes do comunicado dentro de uma rotina estabelecida com o fabricante.
Glifosato
Conversei com Geraldo Berger, diretor de regulamentação da Monsanto Brasil, que confirmou a afirmação da Anvisa. Ele acrescentou que faz parte da política da empresa proceder a reavaliações periódicas de seus produtos. Disse que a Monsanto gasta no mundo todo cerca de US$ 1,4 bilhão por ano em pesquisas.
A sede da multinacional em Saint Louis (EUA) já havia se posicionado por meio de nota oficial, também no dia 20, sobre o alerta da IARC. A empresa mencionou aprovações dos produtos por agências reguladoras de países europeus e alegou que o estudo citado pela agencia da OMS não estabeleceu relação de causa e efeito entre os produtos e ocorrências de câncer.
Outros estudos
A nota oficial disse também que a Monsanto pediu em caráter de urgência à OMS uma reunião com a presença de representantes de algumas agências reguladoras para considerar “estudos científicos que foram ignorados”.
Nesta semana, a empresa citou um documento do BfR (Instituto Federal de Avaliação de Risco), da Alemanha, que considerou “surpresa” a indicação do glifosato como “provavelmente carcinogênico para humanos” pela IARC, pois estudos anteriores não teriam confirmado essa possibilidade.
No entanto, como ausência de evidência não é evidência de ausência, a Anvisa informou também que as conclusões da pesquisa divulgada pela IARC sobre o glifosato deverão serão aproveitadas nessa reavaliação já em curso.
Banido
O estudo publicado na revista “The Lancet Oncology” foi realizado por 17 pesquisadores de 11 países. Reunidos pela IARC, sediada em Lyon, na França, eles organizaram informações sobre a carcinogenicidade atribuída por outras fontes aos três produtos citados e também a outros dois agrotóxicos, o tetraclorvinfós e o paration, ou parationa.
A Anvisa baniu o paration por meio de resolução em 10 de dezembro do ano passado, tomada após reavaliação toxicológica. Também não está autorizado no Brasil o tetraclorvinfós, segundo a agência. Vamos acompanhar essas reavaliações.
PS – O blog “Retraction Watch” acaba de informar em seu post “Weekend Reads” que a Monsanto pediu retratação do estudo da IARC.