Médico assassinado se torna editor-chefe de revista científica

Por Maurício Tuffani
Imagem: Reprodução
Página inicial do site da revista “American Journal of Medical Sciences and Medicine”, que até 7 de julho indicava como editor-chefe o médico Roger Brumback, professor da Universidade Creighton, assassinado em maio de 2013. Imagem: Reprodução

O neuropatologista Roger Brumback e sua esposa Mary foram assassinados em maio de 2013 em sua casa em Omaha, em Nebraska, nos Estados Unidos. Apesar de ter sido amplamente noticiada, inclusive neste ano pela notícia do julgamento do acusado a ser realizado em setembro, a morte do médico não foi impedimento para ele ser apontado como editor-chefe do periódico “American Journal of Medical Sciences and Medicine”.

Morto por vários tiros no abdômen, Brumback era professor da Universidade Creighton, onde havia chefiado o departamento de patologia. O uso indevido de seu nome pela revista foi noticiado na terça-feira (7.jul) pelo blog “Scholarly Open Access”, do biblioteconomista Jeffrey Beall, professor da Universidade do Colorado em Denver.

AJMSM_detalheAlgumas horas depois, o periódico removeu o nome de seu site e em seu lugar inseriu um link para inscrições de candidatos ao cargo de editor-chefe, como mostra o detalhe da página na imagem à direita.

Periódicos predatórios

Longe de parecer apenas um mero episódio anedótico, a apropriação indevida do nome de Brumback pela revista se insere no crescente cenário de desconfiança na comunidade científica em relação aos chamados “periódicos predatórios”. A expressão tem sido usada há alguns anos para designar revistas acadêmicas editadas por empresários que exploram sem rigor científico uma importante iniciativa de comunicação científica que surgiu com a internet, que é o modelo editorial de publicação de artigos em acesso livre, financiado pelas próprias instituições acadêmicas mantenedoras dos periódicos ou pela cobrança de taxas de autores dos estudos.

Tanto nas publicações científicas em acesso aberto como no modelo tradicional mantido por assinaturas anuais ou pela cobrança por artigo baixado pela internet, os periódicos bem conceituados demoram meses e até mais de um ano para analisar e aceitar artigos, ou rejeitá-los. Os publishers predatórios não só reduzem a poucas semanas e até a poucos dias o intervalo entre a apresentação e a aceitação de artigos, mas também são menos seletivos e rigorosos nesse processo.

Em novembro de 2012, Beall já havia publicado um post informando o lançamento simultâneo de 85 periódicos científicos pela mesma editora dessa revista, a Science and Education Publishing (SciEP), que desde então está na lista de publishers predatórios mantida pelo blogueiro.

A revista “American Journal of Medical Sciences and Medicine” não consta na na base de dados online Qualis Periódicos, mantida pela Capes (Coodenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), órgão do MEC (Ministério da Educação). Pelo menos 235 periódicos da lista de Jeffrey Beall foram identificados no Qualis Periódicos por este blog em abril deste ano.