O desmatamento anual por corte raso na Amazônia brasileira voltou a crescer. Agora, contando os 5.813 km2 de floresta derrubada entre 2014 e 2015, que correspondem a um aumento de 16% em relação ao período 2013 a 2014, a área total da vegetação nativa já completamente eliminada chegou a 770.038 km2, pouco maior que a da Bahia e quase a metade da do Amazonas.
Na verdade, a devastação é ainda maior, pois os dados anunciados se referem somente às áreas de corte raso, ou seja, que foram totalmente desmatadas. Esses números não incluem áreas muito degradadas pela extração seletiva de madeira e também por incêndios ocorridos anteriormente, como já explicou este blog (“Amazônia: números de desmatamento encobrem devastação”, 12.set.2014).
Produzidos pelo Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite), do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), os dados relativos ao período de agosto de 2014 a julho de 2015 foram divulgados na noite de ontem (quinta-feira, 27.nov) pelo MMA (Ministério do Meio Ambiente).
PROPAGANDA ENGANOSA
A divulgação pelo governo federal tentou de forma equivocada minimizar o aumento da devastação, enfatizando um aspecto positivo, que na verdade é imaginário. Logo em seu início, a nota “Desmatamento registra terceira menor taxa”, divulgada pelo MMA afirmou:
“Apesar do acréscimo de 16% registrado de julho de 2014 a agosto de 2015, as taxas de desmatamento da Amazônia se mantiveram dentro da barreira dos 5 mil km2.”
Além de essa afirmação ser enganosa porque a barreira dos 5 mil km2 já foi ultrapassada desde o período anterior —na verdade, a atual está muito próxima dos 6 mil km2—, ela está errada também por confundir os meses que definem os períodos anuais de referência, que começam em agosto e terminam em julho do ano seguinte.
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Mantendo a liderança dos anos anteriores, os Estados campeões do desmatamento em 2014-2015 foram Pará (1.881 km2) e Mato Grosso (1.508 km2). Mas a surpresa negativa ficou para o placar da modalidade da variação em relação às taxas anuais anteriores, na qual o vencedor foi o Amazonas, com aumento de 54%. A “medalha de prata” desse avanço na devastação foi Rondônia (41%) e a de bronze, para Mato Grosso (40%).
Ao comentar esses números, a ministra Izabella Teixeira, do Meio Ambiente, afirmou:
“É incompreensível, pois esses Estados receberam R$ 220 milhões do governo federal para modernizar seus sistemas de licenciamento e fiscalização e agora apresentam esse resultado. (…) Temos que ver o aconteceu. (…) Está ocorrendo uma mudança no perfil das áreas desmatadas: Antes havia um desmatamento pulverizado. Mas agora estão desmatando em grandes áreas.”
De acordo com a nota do MMA, o mapa do desmatamento nesses Estados mostra também um aumento da devastação no entorno de áreas protegidas, principalmente terras indígenas. “É indício de esquentamento de madeira”, avaliou a ministra referindo-se ao procedimento ilegal de desmatar além do que foi autorizado ilegal, que é comum em propriedades no entorno de unidades de conservação e áreas indígenas.
ALERTA
O fato de terem ocorrido esses aumentos das taxas anuais de corte raso nesses três Estados, e justamente em grandes áreas contínuas pode indicar um problema ainda maior, que é o de o CAR (Cadastro Ambiental Rural) não estar produzindo os efeitos previstos desde sua instituição por meio da lei que alterou e esquartejou o Código Florestal em 2012.
Por falar nisso, que tal acabarmos com essa história de chamar de “código florestal” essa lei completamente desprovida de referenciais científicos e legais de proteção ambiental? Chega, não?