Nesta quinta-feira (10.dez), a página “Situação dos Mananciais”, da estatal de abastecimento de água do governo paulista, a Sabesp, mostra para o sistema Cantareira três indicadores de armazenamento: “Índice 1”, de 21,9%, “Índice 2”, de 16,9%, e “Índice 3”, de 7,4% negativos.
Com o aumento das chuvas na região Sudeste, diariamente milhares de cidadãos têm constatado a redução do único indicador que faz sentido —e faz cada vez mais ainda neste momento de recuperação —, que é o percentual negativo.
Correspondente à barra vermelha no gráfico, esse dado representa o armazenamento de água em relação ao que era seu volume útil original desse sistema que chegou a abastecer mais de 10 milhões de habitantes da Grande São Paulo, e acabou atendendo precariamente a menos de 6 milhões de pessoas.
MAQUIAGEM
Este blog acompanhou as diversas etapas e procedimentos do avanço do malabarismo aritmético distorcedor por trás dos percentuais positivos (as barras azuis). Essa contumácia desinformativa começou a ser posta em prática pela Sabesp em 15 de junho de 2014, assim que teve início o bombeamento do volume morto.
A melhor descrição dessa maquiagem de dados foi feita em fevereiro, pelo engenheiro hidráulico Antonio Carlos Zuffo, professor da Unicamp, em entrevista para este blog:
“Essa forma que está sendo empregada para informar à sociedade o armazenamento do Cantareira equivale a um extrato bancário que não mostra o saldo devedor de uma conta corrente que está negativa no cheque especial.”
(“Índices do Cantareira desinformam população, dizem pesquisadores”, 25.fev.)
CORRETIVO
Felizmente a Justiça acabou obrigando a estatal de abastecimento do governo tucano de São Paulo a apresentar diariamente com percentuais negativos os níveis de armazenamento do sistema Cantareira.
Isso ocorreu em 16 de abril deste ano, quando o juiz Evandro Carlos de Oliveira, da 7ª Vara da Fazenda Pública do Estado, deu sentença favorável à ação civil pública do promotor de Justiça Ricardo Castro Júnior, do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente do Ministério Público do Estado de São Paulo.
TEIMOSIA
Mesmo com esse corretivo da Justiça, que veio após críticas de ONGs e pesquisadores que apontaram os prejuízos dessa desinformação para a conscientização da sociedade no enfrentamento da crise hídrica, a Sabesp não deixou de divulgar seus percentuais positivos (“Percentual negativo é o correto para o sistema Cantareira”, de 29.jul.).
E vem agora a curiosidade: o que fará a Sabesp com esses índices positivos quando o sistema Cantareira estiver prestes a ter completamente recuperado seu volume morto? Continuará com esse gráfico com suas enormes e cada vez maiores colunas azuis quando, na verdade, estaremos apenas retornando ao nível zero do volume útil original?