Lista de editoras científicas predatórias cresceu 33% em 2015

Por Maurício Tuffani
Lista de publishers predatórios do blog "Scholarly Open Access", mantida desde 2011 pelo biblioteconomista Jeffrey Beall, da Universidade do Colorado em Denver, nos EUA. Imagem: reprodução
Lista de publishers predatórios do blog “Scholarly Open Access”, mantida desde 2011 pelo biblioteconomista Jeffrey Beall, da Universidade do Colorado em Denver, nos EUA. Imagem: reprodução

Cresceu cerca de um terço em 2015 a polêmica lista de editoras de revistas acadêmicas acusadas de não respeitarem os padrões de rigor científico na aceitação de artigos de pesquisadores, explorando o modelo de cobrança para publicação desses trabalhos em acesso livre pela internet.

Elaborada desde 2011 pelo biblioteconomista Jeffrey Beall, professor da Universidade do Colorado em Denver, a lista de “publishers predatórios” aumentou de 693 em janeiro de 2015 para 923 no último dia 5, ou seja, teve um crescimento de 33,2%.

Durante muitas décadas praticamente todas as publicações científicas foram custeadas por assinaturas. Com o advento da internet, surgiu a cobrança para o download por artigo e também um novo tipo de modelo: a publicação com acesso livre, no qual os custos editoriais e de difusão são providos por instituições mantenedoras das publicações, muitas vezes com o apoio de recursos públicos, ou por cobrança de taxas dos próprios autores dos artigos científicos.

PAGOU, PUBLICOU

Tanto no acesso livre como no modelo pago por assinaturas ou cobrança de downloads, editores de periódicos bem conceituados demoram meses e até mais de um ano para analisar e aceitar artigos, ou rejeitá-los.

Os publishers predatórios não só reduzem esse intervalo a poucos meses ou semanas, mas também raramente rejeitam papers. “Quanto mais artigos eles aceitam e publicam, mais dinheiro eles fazem” disse Beall em uma entrevista a uma reportagem deste blogueiro na Folha, em março de 2015.

Beall tem sido criticado principalmente por não se preocupar com os editores acadêmicos comerciais, dedicando exclusivamente seu trabalho aos publishers do chamado OA (“Open Access”, Acesso Aberto em inglês). No ano passado, pesquisadores e editores científicos brasileiros elaboraram moções de repúdio contra ele por ter se referido em 30 de julho em seu blog à plataforma brasileira SciELO, baseada no OA, como “favela de publicações”.

PROLIFERAÇÃO

No entanto, cerca de dois meses depois, um sério alerta contra os predatórios veio de uma revista publicada pelo BMC (Biomed Central) —insuspeito para tratar do tema, por ser baseado no Open Access, apesar de integrar o tradicional e comercial grupo editorial alemão Springer.

Em outubro, um estudo na revista “BMC Medicine” apontou que o número de artigos publicados por publishers predatórios cresceu de cerca de 53 mil em 2010 para aproximadamente 420 mil em 2014. Ou seja, um crescimento de 692% (“Produção de periódicos predatórios aumentou 7 vezes em 4 anos”).

Nesse trabalho, Cenyu Shen e Bo-Christer Björk, da Escola Hanken de Economia, na Finlândia, identificaram cerca de 8 mil periódicos ativos responsáveis por esse aumento. Segundo os autores, cerca de 75% dessas revistas estão na África e Ásia.

NO BRASIL

Shen e Björk elaboraram seu trabalho a partir da lista de Beall. Neste blog, com a ajuda de pesquisadores brasileiros e aplicando critérios de seleção próprios, também parti desse levantamento para elaborar a relação do post “Pós graduação brasileira aceita 201 revistas predatórias” (9.mar.2015) e “Sobe para 235 a lista de predatórios da pós-graduação brasileira” (3.abr.2015).

Beall pode e deve ser criticado por seu trabalho. Eu mesmo o critiquei pela forma com que abordou a SciELO, que inclusive foi estrategicamente desastrosa em relação ao tema (“Um alívio para os periódicos predatórios”). No entanto, seu trabalho não pode ser ignorado. Um mínimo de atenção à sua lista teria evitado a classificação de muitas dessas revistas predatórias na avaliação trienal 2010-2012 da Capes (Coordenadoria de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior).