O italiano Guglielmo Marconi (1874-1937) documentou suas primeiras experiências de telegrafia sem fio a partir de 1896. Na verdade, sua contribuição à ciência é muito maior. Por suas pesquisas sobre a transmissão de ondas eletromagnéticas ele dividiu com o alemão Karl Ferdinand Braun (1850-1918) o Prêmio Nobel de Física de 1909.
Na mesma época, o padre brasileiro Roberto Landell de Moura (1861-1928) realizou transmissões de voz, e não apenas de sinais elétricos. O primeiro registro público dessas experiências é de 1900, em São Paulo.
Criado em julho de 2009 por radioamadores, jornalistas, professores e profissionais de diversas áreas, o Movimento Landell de Moura tem atuado para que o padre brasileiro tenha seu trabalho reconhecido em nosso país.
Na semana passada o grupo lançou na internet uma petição aberta para adesões, a ser encaminhada para o Ministério da Educação, com o pedido de inclusão da vida e da obra de Roberto Landell de Moura na grade curricular do Ensino Básico.
Na próxima quinta-feira se completam 155 anos desde o nascimento de Landell de Moura em Porto Alegre em 21 de janeiro de 1861. Ele iniciou sua formação superior na Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Mas em 1878 seguiu para Roma, na Itália, onde estudou física, química e teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana e foi ordenado padre em 1886.
“TELEFONE SEM FIO”
Realizada por Landell de Moura em 3 de junho de 1900,* sua primeira transmissão pública de voz foi divulgada sete dias depois pelo diário paulistano “Jornal do Commercio” com a seguinte nota.
No domingo proximo passado, no Alto de Sant’Anna, cidade de S. Paulo, o Padre Roberto Landell, fez uma experiencia particular com varios apparelhos de sua invenção, no intuito de demonstrar algumas leis por elle descobertas no estudo da propagação do som, da luz e da electricidade atravéz do espaço, da terra e do elemento aquoso, as quaes forão coroadas de brilhante exito. (…) Assistirão á esta prova, entre outras pessoas, o Sr. P. C. P. Lupton, representante do Governo Britanico e sua família.
Em 9 de março de 1901, Landell de Moura depositou no Escritório de Patentes de Washington, nos EUA, a patente de seus equipamentos, que foi registrada definitivamente em 1904 com a denominação de “wireless telephone” (telefone sem fio).
Algumas das biografias de Landell de Moura afirmam que ele teria realizado suas primeiras experiências de transmissão de voz sem fio por volta de 1894. Ou seja, pouco mais de um ano antes dos primeiros testes de Marconi com sinais telegráficos de código Morse.
Na verdade, o pioneirismo sobre a telegrafia sem fio se tornou objeto de controvérsia.
Marconi depositou nos EUA a primeira de suas patentes de equipamentos de telegrafia sem fio em 13 de julho de 1897.
Em 2 de setembro do mesmo ano, o croata de etnia sérvia Nikola Tesla (1856-1943), que teria realizado transmissões de telegrafia sem fio já em 1891, também depositou patentes de instrumentos baseados nos mesmos princípios eletromagnéticos.
Seis anos após a morte de Marconi, e seis meses após a de Tesla, em decisão de 21 de junho de 1943, a Suprema Corte dos EUA rejeitou e considerou inválida uma ação da empresa Marconi Wireless Telegraph Company contra a eficácia de registros de patentes do servo-croata e de outros inventores. A decisão reforçou o que muitos cientistas e engenheiros já sabiam: os trabalhos de Tesla foram fundamentais para equipamentos desenvolvido por Marconi.
DESPRESTÍGIO
Apesar de seus esforços e de ter realizado outros inventos, o padre pesquisador não teve em vida reconhecimento nem apoio. Nem mesmo após obter o registro definitivo de sua patente em 1904. De volta ao Brasil, ele recebeu do presidente da República Rodrigues Alves a negativa de seu pedido de apoio por meio de dois navios da Marinha Brasileira para fazer experimentos e demonstrações.
Para piorar ainda mais, caiu sobre ele a suspeita ele de ter “parte com o demônio” por falar através de caixas, o que o fez ser assediado e ter seus inventos destruídos por fanáticos religiosos.
A radiodifusão comercial teve início somente em 1920, em 2 de novembro, quando entrou em operação a emissora KDKA em Saxonburg, na Pensilvânia, nos Estados Unidos.
Landell de Moura morreu em 30 de junho de 1928 em Porto Alegre, vítima de tuberculose. Mais informações sobre sua vida e sua obra estão em
Biografia, por Luiz Netto (“Aminharadio.com.br”, 24.br.2006)
Especial Landell de Moura (“Jornalistas & Cia”, 1.jul.2013)
“O brasileiro que inventou o rádio”, de Eduardo Ribeiro e Hamilton Almeida (Folha, 19.set.2010)
Inventário do Acervo Padre Roberto Landell de Moura (Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul)
Memorial Landell de Moura (Porto Alegre, RS)