Autores ‘despublicam’ estudo que sugeria eletrochoque para depressão

Por Maurício Tuffani
Simulação antiga de terapia de eletrochoque no Museu Glenside, em Bristol, no Reino Unido. Imagem: Rodw/Wikimedia Commons
Simulação de terapia de eletrochoque com dispositivo antigo no Museu Glenside, em Bristol, no Reino Unido. Imagem: Rodw/Wikimedia Commons/Reprodução

Um estudo psiquiátrico publicado em outubro de 2014 concluiu que a terapia com eletrochoques e exercícios aeróbicos, assim como sua combinação, seriam “indicações promissoras” para pacientes com depressão severa. O problema é que os autores do trabalho perceberam depois que haviam se baseado em dados experimentais que não tinham nada a ver.

Assinado por dez pesquisadores (cinco do Irã, quatro da Suíça e um da Bulgária), o artigo foi retratado —o que equivale a “despublicado” no jargão acadêmico— em outubro de 2015, um ano após ter sido veiculado pelo “Journal of Psychiatric Research”.

Apesar de a nota estar no site do periódico há cerca de quatro meses, ela só se tornou notícia anteontem (segunda-feira, 8.fev) por meio do blog “Retraction Watch”, que monitora retratações de artigos científicos.

IMBRÓGLIO

Em sua nota de retratação, o “Journal of Psychiatric Research” afirmou que a retirada do paper foi solicitada pelos próprios autores e que eles alegaram ter “analisado erroneamente” dados de um outro estudo elaborado por eles —na verdade, por sete deles— e publicado pela mesma revista em julho de 2013.

A confusão é muito estranha, uma vez que o estudo publicado em 2013 se refere a testes realizados com 40 pacientes, ao passo que o de 2014 indica 60 pessoas submetidas a pesquisas. Pelo jeito, nenhum dos autores se deu conta de que estariam faltando dados de 20 indivíduos. Sem falar que o artigo anterior se referiu a outro tema, que foi a comparação entre o uso de eletrochoques e o do antidepressivo citalopram.

Não bastasse toda essa encrenca, até o início da manhã desta Quarta-feira de Cinzas (10.fev)  não havia nenhuma indicação da retratação no registro do artigo de 2014 na prestigiada base de dados Pubmed, da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos, como destacou um leitor no espaço de comentários do “Retraction Watch”.