(Complemento do post “Sobe para 235 a lista de ‘predatórios’ na pós-graduação brasileira”, 3.abr)
Questionamento encaminhado pelo blog à Capes em 1º de abril (trechos em verde escuro) e as respectivas considerações e respostas da agência no dia seguinte (trechos em vermelho).
Apesar de vocês terem dito que continua valendo a resposta dada no final de fevereiro para minha reportagem publicada na Folha em 3 de março, volto a consultá-los em vista de fatos novos.
A – Mais 34 predatórios no Qualis
Identifiquei mais 34 títulos de periódicos da lista de Jeffrey Beall classificados no Qualis. Estão todos relacionados ao final desta mensagem. Constatei em todos eles irregularidades, a começar pela omissão de datas de recebimento e de aceitação de artigos. A análise de metadados dos arquivos publicados aponta também com muita frequência datas diferentes das de publicação
Na ocasião, referindo-se somente às aparentemente quatro revistas da editora Waset, vocês disseram que elas representavam “cerca de 0,1% do total de títulos constantes no Qualis”, que na mesma resposta vocês apontaram sendo cerca de 30 mil. Agora, com o total de 235 já identificadas, o percentual sobre para 0,8%.
Comentário preliminar da Capes:
Tem sido apontado por várias análises de jornalistas especializados em temas de ciência, tecnologia e educação superior em muitos países, que nos últimos anos tem havido uma expansão de novos períodos (revistas científicas) editados por sociedades científicas, universidades, academias, etc., bem como por grupos editorais de naturezas e propósitos muitos diversos.
Como também descrito nestas análises existem muitos sistemas/sistemáticas (alguns já com mais de cinquenta anos) que fazem listagens, catalogações, indexações, ranqueamentos usando para tanto diversos aspectos, entre outros: existência ou não de clara política editorial; existência ou não de corpo editorial com pesquisadores reconhecidos na comunidade; regularidade ou não e periodicidade ou não nas revistas; clara identificação ou não das datas entre recebimento de um artigo, sua aceitação e efetiva publicação necessárias para assegurar a primazia de autoria; clara identificação ou não identificação ‘a priori’ se a publicação de artigos será cobrada dos autores, ou se não haverá cobrança mas assinaturas pagas ou ainda se não terá assinaturas pagas nem cobrança de autores; clara descrição se o editor usa os não os atuais aplicativos e bancos de bancos mundiais que permitem detectar cópias, plágios, uso de resultados sem citação, etc.
Estas diversas sistemáticas, entre elas a mencionada lista Beall, produzem listagens que são atualizadas a cada ano, semestre, … ou mesmo a cada mês à medida que novos títulos são lançados no cenário internacional. Portanto, devem ocorrer naturais discrepâncias quando se usam tais listagens, por exemplo atualizadas trimestralmente para contabilizar situações que permanecem iguais durante todo um ano.
B – Disparidades em classificações
Uma das publicações que encontrei, o Journal of Medicine and Medical Sciences, tem 13 classificações no Qualis, que vão de B2 em Ensino a C em cinco outras áreas. Apontei anteriormente duas outras ocorrências semelhantes em meu post “Avaliação de revistas científicas no Brasil é ‘quântica’.
C – Divergência entre entrevista e resposta
Constatei também que em entrevista à Folha anterior às minhas reportagens (Pagou, publicou, 25.jan) o presidente da Capes havia afirmado que a indexação e a classificação do Qualis evitam o surgimento no país de periódicos predatórios. Mas, além de o Qualis não ter evitado essas 235, essa declaração se mostra conflitante com aquela primeira resposta dada por vocês em nota de 25 de fevereiro, que destacou o controle a posteriori, e não prévio, como mostra o trecho que transcrevo a seguir:
Quando da classificação (Qualis) destas revistas para fins de avaliação (notas) do SNPG, que é feita pela comunidade acadêmico-científica através de comissões das 48 áreas de conhecimento, são considerados vários aspectos sobre as mesmas. Nos casos em que existam evidências e referências de práticas editoriais incorretas ou inadequadas frente à comunidade, as revistas são retiradas da base do Qualis e os artigos publicados nas mesmas são desconsiderados na avaliação. Isto ocorreu na última avaliação trienal, quando mais de 60 (sessenta) revistas foram retiradas do Qualis, mesmo tendo tido classificação (contabilização) em trienais anteriores.
Desse modo, peço, por favor, respostas da Capes para as seguintes questões:
Pergunta:
Como a Capes avalia a inclusão no Qualis de 235 títulos de periódicos que comprovadamente aceitam artigos apressadamente (muitas vezes em poucos dias e, em alguns casos, até mesmo anunciando rapidez nesse processo) ou nem sequer indicam datas de recebimento e aceitação, sem falar em outras irregularidades? (E todas elas estavam na lista de Jeffrey Beall desde antes da avaliação trienal concluída em 2013.)
Resposta:
Como assinalado na resposta à entrevista anterior, o processo da CAPES é trienal e no que se refere a parte de avaliações da produção intelectual de professores e alunos da pós-graduação elas são feitas posteriormente depois que os mesmos informaram as suas publicações. Mencionando novamente, não se faz um permanente acompanhamento diário de novos títulos que são lançados no Brasil e no mundo, e imediatamente se incorpora os mesmos em uma listagem atribuindo classificação.
Pergunta:
Houve alguma providência da Capes em relação à notícia de mais de 200 periódicos predatórios classificados no Qualis?
Resposta:
Como mencionado anteriormente, … “Nos casos em que existam evidências e referências de práticas editoriais incorretas ou inadequadas frente à comunidade, as revistas são retiradas da base do Qualis e os artigos publicados nas mesmas são desconsiderados na avaliação”… Reiterando então, isto aconteceu na última trienal, quando algumas dezenas de periódicos foram desclassificados. Como pode ser consultado na página da CAPES, alguns daqueles títulos tinham ou tiveram em anos anteriores a 2012 uma classificação no Qualis e enquanto tais foram considerados e contabilizados nas avaliações trienais anteriores (por exemplo, nas trienais de 2010 e 2007). Portanto, foi no momento da última avaliação trienal, feita no 4o trimestre de 2013, que “práticas editoriais incorretas …” (que até então não tinham sido identificadas nos anos anteriores) foram consideradas e tais revistas foram retiradas e os artigos não computados.
Pergunta:
Como a Capes avalia os casos de multiplicidade de classificações de grande disparidade para um mesmo título?
Resposta:
Esta multiplicidade decorre da própria natureza do procedimento adotado no Qualis.
Não é feita uma única classificação das mais de 30 mil revistas que os cursos de pós-graduação informam anualmente terem sido usados para publicar sua produção intelectual. As classificações são feitas em 48 diferentes áreas e suas respectivas comissões e nenhuma delas classifica todas as 30 mil revistas.
Neste contexto vai acontecer que cada área terá na sua lista de periódicos, aqueles que publicam temas mais específicos ou próprios daquela área e, também, periódicos a serem classificados que são mais aderentes as outras áreas. Deste modo é natural que pontuem (sempre relativamente e por comparação) mais altos aqueles que são específicos.
Pergunta:
Como a Capes explica a divergência entre a afirmação dele à citada entrevista publicada em 25 de janeiro, na qual destacou uma capacidade de detecção prévia de periódicos predatórios, e a resposta posterior da agência, que mostrou um controle a posteriori?
Resposta:
Contemplada nas respostas anteriores.
Pergunta:
Qual é o número exato de títulos de periódicos classificados atualmente no Qualis?
Resposta:
Até o meio de abril é o prazo para que os atuais programas de pós-graduação, da ordem de 3700 e que são avaliados no Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG), enviem e ou ratifiquem suas informações relativas aos anos-base 2013 e 2014.
Após processamento destas informações para obtenção de listas atualizadas com tudo o que foi publicado até dezembro de 2014 é que deveram começar as reuniões, das 48 coordenações de áreas com suas respectivas comissões compostas por pares da comunidade, para atualização do Qualis. Dada a dimensão do sistema considerando a possibilidade de agenda das comissões e aspectos operacionais do sistema estimamos que uma lista atualizada do Qualis possa ser conhecida no início do segundo semestre. Esta lista atualizada será então disponibilizada, substituindo assim a atual que consta na página da CAPES.