Depois dos três dias da secura de dados que mencionei no post “A água ainda não acabou, mas a informação já” (19.out), os indicadores precisos sobre o sistema Cantareira voltaram a estar disponíveis nesta segunda-feira (20.out) na Sala de Situação da ANA (Agência Nacional de Águas). A descontinuidade, informou o órgão federal, aconteceu porque a Sabesp havia interrompido o fornecimento desses dados.
Desse modo, temos em São Paulo uma situação que é no mínimo bizarra: os números precisos sobre o sistema Cantareira disponibilizados pela agência reguladora são da própria Sabesp. A estatal paulista, por sua vez, entende que não é necessário divulgá-los ou pelo menos disponibilizá-los para a população do Estado, ainda mais neste momento mais que crítico.
Em contraste com a ANA, a companhia do governo do Estado procede como se bastassem seus percentuais diários para os que moram neste Estado. E, sempre é bom lembrar, essas porcentagens resultam de uma aritmética generosa, na qual o volume morto é acrescentado a um dividendo mas deixa de ser somado ao divisor. (Mais detalhes no post “Um dia especial do gráfico desinformativo da Sabesp”, de 20.set.)
A situação
No início desta segunda-feira (20.out) restavam no sistema Cantareira apenas 18,1 bilhões de litros do total de 182,5 bilhões de litros de água do chamado volume morto disponibilizados a partir de 15 de maio, segundo o boletim diário da ANA. Ou seja, já estava reduzida a 9,9% essa reserva da qual 164,4 bilhões de litros foram consumidos desde o início de junho.
Por meio de seu generoso artifício aritmético, a companhia de saneamento paulista consegue representar essa sobra de hoje pelo percentual de 3,5%. Mas, sem apelar para esse procedimento, o que se calcula é 1,5% do volume útil acrescido da reserva, como mostra a ilustração abaixo.
Em resposta a uma de minhas perguntas, a estatal afirmou que faz sua divulgação do armazenamento de seus sistemas de abastecimento por meio de percentuais porque “a unidade utilizada pela Sabesp é de comum acordo com os órgãos gestores”.
Questionei quais são esses “órgãos gestores”. E perguntei ainda por que não informar também em unidades de volume, como, por exemplo, os hectômetros cúbicos da ANA que equivalem a bilhões de litros. Ainda estou sem esclarecimentos da Sabesp sobre essa “economia” de informação.